«Estamos a receber mais pedidos para acções de desinfestação, principalmente da zona ribeirinha de Lisboa», explica ao SOL a funcionária de uma das maiores empresas de desinfestações do país.
De acordo com Célia Cardoso, são três tipos de baratas que andam pela cidade: a barata americana (a maior, que atinge 3 a 4 cm), a oriental (entre 2 e 3 cm) e a germânica (que não ultrapassa os 2). A que está neste momento a ‘invadir’ a capital é a americana, que vive nos esgotos.
«Das oito a dez chamadas que recebemos por dia por causa de baratas, 40% são casos relacionados com a chamada ‘barata do esgoto’», explica, por seu lado, Luís Morais, responsável técnico da Truly Nolen, outra empresa especializada em controlo de pragas. O técnico confirma que os pedidos de auxílio estão a aumentar com a chegada do calor. «Há mais pessoas e empresas a accionar os serviços».
O sucesso das intervenções destas entidades privadas depende, porém, da acção da CML. «Quando nos chamam, pedimos aos clientes para contactarem os serviços municipais para fazer a desinfestação na rua ao pé do local em causa», acrescenta Luís Morais, explicando que, caso contrário, as baratas depressa voltam a invadir o espaço dos clientes.
«Mas há uma ineficácia dos serviços de desinfestação municipais», acusa, referindo que não actuam rapidamente nem com os produtos certos. «Estão a demorar dois a três dias a responder aos pedidos», explica. «Além disso, usam insecticidas que matam as baratas visíveis, mas todas as outras fogem pelas canalizações», acrescenta.
As críticas à CML chegam também dos moradores da cidade. Rosário vive em Benfica e garante que nunca mais viu os técnicos da autarquia a fazer limpezas. «Dantes costumava vê-los fazer tratamentos preventivos nas sarjetas. Agora não» – nota, explicando que tem sempre as janelas e as portas bem fechadas para não ter a casa ‘invadida’ por baratas.
CML garante que faz desinfestações
Em resposta ao SOL, a CML, garante porém que «faz desinfestações diárias» em todos os espaços públicos sob a sua responsabilidade, como na rede municipal de esgotos. Isto, adianta, em resultado de «intervenções programadas e respondendo a pedidos de munícipes em todas as freguesias».
Mas as queixas sucedem-se. Em Alcântara, Maria João vive num condomínio de luxo: «Aqui, as baratas são de todos os tamanhos e algumas chegam a ter uns quatro centímetros», conta, recordando que a praga começou no Verão de há dois anos. Os administradores do condomínio tiveram de recorrer a uma empresa que passou a fazer desbaratizações anuais. «Mas acabam sempre por voltar», diz a moradora.
«No outro dia, encontrei uma num restaurante em Campo de Ourique», conta também Mariana, que vive neste bairro.
A questão é que a proliferação de baratas, seja de que espécie forem, só acontece «quando há falta de higiene», avisa o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública, Mário Jorge dos Santos. «Isso significa que estão reunidas condições que colocam em causa a saúde pública», alerta, acrescentando: «Onde há baratas, há ratos, que são transmissores de doenças como a toxoplasmose, que pode provocar malformações fetais, por exemplo, entre outras».
Mas não só. Com a falta de limpeza urbana, lembra o especialista, «aparecem as moscas e os mosquitos, insectos que transmitem doenças de difícil controlo».